domingo, 30 de outubro de 2011

Marie Dentière: a Face Feminina da Reforma

O primeiro nome de uma mulher foi acrescentado ao monumento do Parque Bastions em Genebra no ano de 2002 durante as comemorações da Reforma. O nome de Marie Dentière aparece agora não apenas no muro em si, mas em um bloco de pedra ao lado dele.

Durante séculos, este personagem histórico não gozou da melhor reputação, isso para dizer o mínimo. Felizmente recentes pesquisas tem mudado radicalmente a imagem que nós temos dela. A reputação de Marie Dentière evoluiu de uma simples mulher briguenta inofensiva com um temperamento explosivo e inflexível para a de uma pessoa que, embora certamente não fosse típica dos primeiros dias da Reforma, também era uma das principais intelectuais deste movimento religioso: uma historiadora, educadora e astuta teóloga.

Neste sentido, gravar o nome dela no Muro da Reforma é um sinal da apreciação que agora nós podemos demonstrar por esta mulher que pagou tão alto preço pelo seu envolvimento no centro da Reforma Protestante: o preço do silêncio forçado e da reputação machada.

Marie Dentière nasceu na pequena nobreza de Flandres em 1490. Enquanto vivia em Tournai, onde se tornou abadessa do Convento Agostiniano da Abadia de Saint-Nicolas-des-près, ela se converteu à Reforma Luterana e abandonou o convento. Ela mudou-se para Estrasburgo e casou-se com o ex-padre, o famoso estudioso da língua grega, Simon Robert, com quem teve duas filhas. Em 1528 o casal mudou-se para Bex e em seguida para Aigle onde Simon Robert foi pastor até o ano de sua morte em 1532. Marie Dentière casou-se então com Antoniere Froment, 14 anos mais novo do que ela. Natural de Dauphiné, ela acompanhava seu compatriota, Guilherme Farel, um dos líderes da Reforma, particularmente em Neuchâtel, em campanhas evangelizadoras enquanto também assumia o púlpito de Yvonand. O casal mudou-se para Genebra no ano de 1535. Marie Dentière teve outra filha do seu segundo casamento: Judite.

Em 1536, Marie Dentière publicou Guerre et Deslivrance de la ville de Genesve (em português: “Guerra e Libertação de Genebra”). O livro revela a sua sólida instrução teológica e intelectual e seu bom domínio da Bíblia e da Lei Canônica.

Quando Calvino retornou a Genebra, o relacionamento entre o reformador e o casal deteriorou. Mas os motivos para briga em alguns aspectos contou com a ajuda de Farel que , no dia 4 de Fevereiro de 1538, escreveu para Calvino: “Froment não tem a habilidade necessária nem conhece suficientemente a igreja. Você sabe que ele age de acordo com a esposa dele mesmo quando ela não está manipulando ele”. No dia 6 de Fevereiro de 1540, Farel escreveu outra vez para Calvino, que ainda estava exilado em Estrasburgo: “Nosso Froment foi o primeiro que, seguindo a sua esposa, se transformou em um joio no meio do trigo”.

Nesta mesma época, Marie Dentière, que também era amiga e confidente da rainha Margarida de Navarre, escreveu Épître très utile (em português: “A Epístola Muito Útil”). Um escândalo para o seu tempo ao defender igual tratamento de homens e mulheres na habilidade para ler e interpretar as escrituras, o livro foi apreendido e Jehan Girard, que o imprimiu, preso.

Em 1540 Froment era pastor em Massongy nos Chablais quando o casal abriu um colégio interno para meninas na casa deles para das às três filhas de Marie e a outras meninas uma educação completa que incluía aulas de grego e hebraico!

Em 1561, ano em que Marie Dentièra faleceu, ela estava escrevendo o prefácio para um sermão de Calvino sobre como as mulheres deveriam se vestir que era mais que um panfleto teológico onde ela assinou ‘MD’.

Com compaixão e inteligência, Marie Dentière foi ao coração das questões religiosas de seu tempo. Por isso quando ela visitou o convento de Jussy no dia 25 de Agosto de 1536 para tentar, como outros o tinham tentado, convertê-lo à Reforma, Marie Dentière fez uma das mais belas declarações de fé: “Passei muito tempo na escuridão da hipocrisia”, disse ela. “Mas somente Deus foi capaz de fazer-me enxergar minha condição e conduzir-me à luz verdadeira”. Foi por aquela luz verdadeira que ela entendia a história de sua vida e no que se transformou a sua cidade, Genebra.
 

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